ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Todos os dias há doentes operados a cancros das mais variadas espécies, pelo que já nem vale a pena falar destas coisas. Mas não é muito vulgar que um doente de cancro, passados oito dias após uma operação melindrosa, venha a público com uma «Crónica do hospital» onde mistura a surpresa, o desgosto, a ânsia e o desespero, a esperança na vida... mesmo que representada nuns pardais que fazem o ninho. António Lobo Antunes é a vítima e é o autor e uma certeza deixa a todos os leitores: «Suceda o que suceder, uma coisa tenho por certa: isto alterou, de cabo a rabo, a minha vida».
O cancro, diz ele, «Mói e mata. Mata. Mata. Mata. Mata. Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu, já agora, quero-me?», E, como quem desfolha um malmequer, António Lobo Antunes brinca: «Sim. Não. Sim. Não - sim», Depois, a mensagem de esperança (em si, talvez) mas de certeza no nosso futuro. «Por enquanto meço o meu espanto, à medida que nas árvores da cerca uns pardais fazem ninho. A primavera mal começou e eles truca, ninho. Obrigado, Senhor, por haver futuro para alguém».
Obrigado, Lobo Antunes, por existir quem escreva desta forma. E o desejo de regresso, por inteiro, ao nosso convívio.
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