CRÓNICAS DE SARJETA
«Jornalismo de sarjeta» é o título da crónica de hoje de Vasco Pulido Valente no jornal Público. E nela, o autor mistura alhos com bogalhos. Aliás, quer-me parecer que Vasco P. Valente, que até sabe escrever, não deve sair da sua cadeira de ver televisão e da sua mesa de escrever - crónicas, críticas e outros textos e imagino-o, mesmo - perdoe-me se sou mais papista que o Papa - deliciado a beber o seu uísque, ler revistas e jornais, ver televisão e daí partir para os seus escritos. Interrogo-me se ele, que tanto fala do País, conhece de facto este país. Se ele anda aí, pelo interior, se fala com as pessoas, se vai aos bairros degradados ou mais problemáticos ou se, simplesmente, fala da sua cátedra, melhor ou pior, consoante a qualidade dos vapores da tão universal bebida escocesa.
Tem razão na crónica quando fala em repressão do jornalismo, seja de sarjeta ou qualquer outro. A liberdade de escrita e de expressão é uma conquista de Abril, sendo que os autores ficam sujeitos às leis nacionais e ponto final.
Não tem razão quando não «quer» entender que o «jornalismo de sarjeta» de que fala o ministro Santos Silva não é aquele de raízes inglesas que Pulido Valente chama à lide, mas um jornalismo que invadiu este país a partir do momento em que dois ou três grupos económicos tomaram conta dos jornalistas. Não vale a pena escamotear: os jornalistas são hoje ( e de há uns anos a esta parte - recuo até aos tempos «gloriosos» que permitiram a privatização dos jornais - uns lacaios nas mãos dos senhores da comunicação social que nomeiam para director e para cargos de chefia, «noviços» que só sabem, como tal, dizer «ámen». Quem hoje «triunfa» como jornalista é todo aquele que é capaz e se predispõe a fazer o que o chefe lhe manda -- por medo ou por gosto -- e, com isso, anseia subir mais um degrau na carreira. É que, sabemos - de experiência feita - que quem assim não se comportar vai para o «olho da rua» e para o seu lugar logo surgem mil e um candidatos formados à pressa e sem experiência de vida, quanto mais de profissão.
Vasco Pulido Valente «esquece» -- ou será que não sabe, de verdade - estas situações e dá importância, apenas, aos seus conhecimentos literários dos quais não duvidamos!. Mas, atenção. Na mesma crónica pretende fazer do ex-ministro da Educação Marçal Grilo um pateta. Diz mesmo : «O dr. Marçal Grilo andava a rebentar de ódio. Mas tinha uma rolha. Veio de repente o ministro Santos Silva e tirou a rolha ao dr. Grilo e o resultado não se recomenda».
O dr. Marçal Grilo a rebentar de ódio? O dr. Marçal Grilo tinha uma rolha? (aqui já me parece que confunde Marçal Grilo com uma garrafita de uísque...) Vasco Pulido Valente acha-se superior a Marçal Grilo mas esquece-se que não passou de um simples e ocasional secretário de Estado... Invejas? Ódios? Quem os tem chama-lhes seus ou atira-os aos outros.
Jornalismo de sarjeta? Sim, existe e é uma pena. Seriam escusadas, isso sim, crónicas de sarjeta.
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